quarta-feira, 16 de junho de 2010

Insídia

Já amanhecera e ainda esperava ansioso algum contato dele. Parecia ter-me esquecido; talvez fora verdade.

O relógio marcava nove da manhã, e na ensolarada e fria segunda-feira, já seguia para os compromissos de rotina do dia, quando de repente, surge a primeira das quinze mensagens de texto enviadas por ele ao meu celular; imediatamente apresei-me a entregar o dinheiro ao cobrador e passar de uma vez a catraca do ônibus para já ler o que eu esperava ser palavras seguras, sólidas, afinal eram mensagens de um alguém inteligente que esperava.

Sentei-me e li. Logo na primeira vi, mas não quis entender que entendi, talvez por já está tomado por uma insólita vontade de estar junto, corpo-a-corpo. Cai. Li à segunda, e a terceira, e a quarta, e a quinta e assim até contemplar amargamente todas as frases que formavam juntas nada mais do que um atestado de ignorância. Palavras de consolo, pedidos de perdão, justificativas sem muitos fundamentos a não ser os sociais herdados de uma sociedade hebraico-cristã fomentada da mais completa hipocrisia. Dizer-me que por causa dos seus princípios religiosos não pode acreditar nos bons sentimentos, não me convenceu, já que o que eu via partiu de um alguém inteligente, sensível e sob a minha visão, incapaz de se render aos estereótipos. Compreendi, e fiz valer dentro do meu mais profundo EU que se rasgava, chorava e jorrava sangue por inteiro, a máxima do pai da psicanálise: “- A religião só atrofia a consciência humana”. Freud já me dizia, e para todos que se prestasse a observar suas analogias. Um homem precisa e tem que ser livre para viver, amar, sentir, contemplar tudo e todos que lhe for belo e isento dos excessos dos prazeres. Jesus Cristo esteve em vida, e jamais proibiu os prazeres, sejam os da carne, sejam os do psíquico, mas sim os excessos, os abusos; o abuso do livre arbítrio.

Na minha cabeça vieram as incertezas, dúvidas que maltratavam quase que instantaneamente os meus sentidos. O choro foi à primeira opção, mas forte permaneci ali, estático, a rever palavra por palavra, alimentando a utópica possibilidade de ser tudo apenas uma grande brincadeira, de muito mau gosto por sinal. Quando retomei o fôlego já havia chegado a minha parada, vinte e cinco minutos de angustia tinham se passado, e começava outros mais que certamente demorariam a passar, só de birra, só de pirraça.

Mas como? Como ele poderia se deixar manter refém do medo de reconhecer-se como um humano? – era o que conseguia pensar; apenas.

Infelizmente era o que muitos faziam. Era a verdade dos povos do novo mundo na minha frente, na minha mente.

Deus disse: “-Crescei e multiplicai-vos!” – mas será mesmo? Não seria apenas mais uma das incontáveis táticas dos fanáticos cristãos detentores dos direitos e ensinamentos do “livro sagrado” até o ano 300 D.C. ? Não seria apenas uma forma de garantir eternamente adeptos ao cristianismo, futuros soldados de guerra e financiadores de impérios?

Sentei-me no banco. Acendi um cigarro. Fumei. Acendi um outro e esperei queimar por completo antes de levantar. Passei o tempo tentando entender o porquê da atitude; porque não se permitiu.
Na minha cabeça um pensamento inquieto: - Quantos mais além de mim já passaram pela mesma situação com o mesmo garoto?

Inacreditável. Cai em mais uma emboscada.

Nem se quer se preocupou em ouvir-me, em conhecer-me melhor, em saber o que eu estava disposto a fazer por nós. Eu o teria amado mesmo com todos os seus defeitos; eu também não sou perfeito. Amei. Por quase uma semana, eu o amei. Não me pergunte o que é o amor, pois seria incapaz de encontrar palavras suficientemente coniventes. E aqui fiquei, sofrendo silenciosamente, esperando que em algum momento, em algum lugar, ele possa perceber o que está fazendo consigo e comigo.

E reafirmo: - Ainda posso e ainda vou esperar. Quem sabe um dia ele descubra o quão mesquinha foi a sua atitude, não comigo, mas com ele próprio.

Estranho jeito de amar.

Um comentário:

  1. muito lindo, casaria direitinho com uma cr/õnica que escrevi sobre amor entre iguais.

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